Carta das Missões


REDE DOS PONTOS DE MEMÓRIA E INICIATIVAS COMUNITÁRIAS EM MEMÓRIA E MUSEOLOGIA SOCIAL DO RIO GRANDE DO SUL
REPIMRS

Foto Eduíno Mattos

Carta das Missões

São Miguel das Missões, 25 de Agosto de 2012


No dia 25 de agosto de 2012 realizou-se o II Encontro da Rede dos Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias em Memória e Museologia Social do Rio Grande do Sul - REPIMRS, na Escola Estadual Padre Antônio Sepp, na cidade de São Miguel das Missões – RS. A reunião contou com a participação de 29 representantes de comunidades, entre eles, intelectuais e ativistas atuantes no campo da Museologia Social do Rio Grande do Sul, além de membros da equipe técnica do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram/MinC. Como resultado dos principais temas debatidos, produziu-se a Carta das Missões, onde se encontram princípios norteadores das atividades da Rede debatidos desde encontros anteriores (I Reunião da REPIM-RS, Seminário História e Comunidades-ANPUHRS e GT Pontos de Memória do Conexões Ibram), em especial no que diz respeito à definição do conceito de comunidades, princípios norteadores sobre o estabelecimento de parcerias e autogestão, funções da REPIM-RS e outras providências. 

Considerando a importância, necessidade de ampliação e manutenção do Programa Pontos de Memória para a realidade do Rio Grande do Sul;

Reafirmando a importância da articulação em redes e de seu estímulo, em especial da REPIMRS.

Pautando-se nos princípios da Carta da Rede dos Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias em Memória e Museologia Social – Brasília – DF, 2012, onde a autonomia, a descentralização, a diversidade e a cooperação em rede são fundações desta Rede.

Respeitando os acordos internacionais, em especial o Relatório da Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata (2001), que insta as nações conveniadas a maximizar os benefícios da diversidade em todas suas instituições em vista do combate ao racismo, xenofobia ou discriminação correlata;

Considerando a Convenção n° 169 da Organização Internacional do Trabalho (1989) e a Declaração Universal dos Povos Indígenas, onde se asseguram o direito ao auto-reconhecimento e à consulta livre, prévia e informada às comunidades;


Respeitando as resoluções adotadas na Mesa Redonda de Santiago do Chile, a Convenção da Biodiversidade de 1992 promulgada pelo Decreto nº 2.519/1998, os decretos e leis vigentes no território brasileiro em especial art. 215 e 216 da Constituição Federal, o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 11.340/03 (Lei Maria da Penha), a Legislação Brasileira sobre Pessoas Portadoras de Deficiência, em especial o Decreto Legislativo n° 186, o Decreto n° 6.040, o Decreto n° 5.051, a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, a Lei n° 10.741,a Lei do Estado do Rio Grande do Sul 11.872, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Decreto Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em especial as leis 10.639/03 e 11.645/08, que, em conjunto, asseguram os direitos à Memória das comunidades indígenas, afro-brasileiras e periféricas; 

Apoiando-se no eixo Setorial Museus Comunitários e Ecomuseus do Plano Nacional Setorial de Museus 2010-2020, em especial os Tema Transversal 01 – Gestão Museal;  Tema Transversal  02 – Preservação, Aquisição e Democratização de Acervos;  Tema Transversal  03 – Formação e Capacitação; Tema Transversal  04 – Educação e Ação Social;  Tema Transversal  05 – Modernização e Segurança; Tema Transversal  06 – Economia dos Museus;  Tema Transversal  07 – Acessibilidade e Sustentabilidade Ambiental;  Tema Transversal  08 – Comunicação e Exposições;  Tema Transversal  09 – Pesquisa e Inovação. 

A partir deste conjunto de considerações, estabelecemos os seguintes aspectos norteadores para a Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias em Museologia Social do Rio Grande do Sul:

  
A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul (REPIM-RS) entende por comunidades grupo ou grupos de pessoas em situação de vulnerabilidade social unidas por vínculos históricos relacionados a aspectos territoriais, étnicos, culturais e/ou de gênero, em especial quando movidas ou organizadas em prol da defesa e promoção do Direito à Memória e à História, assim como a outros tópicos dos Direitos Humanos e Culturais;

A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul (REPIM-RS) busca garantir que a relação das comunidades com instituições parceiras (universidades, empresas e órgãos públicos) seja estabelecida mediante um contrato formal que obedeça os seguintes princípios: que as comunidades sejam as protagonistas dos projetos em sua concepção, execução e avaliação; que as parcerias se pautem na superação da vulnerabilidade social, em especial a partir da geração de contrapartidas voltadas ao desenvolvimento sustentável e no compromisso da superação das desigualdades; que os fundos captados em nome das comunidades e de suas vulnerabilidades sejam revertidos para as comunidades, fortalecendo seus espaços de memória e educação com equipamentos e injetando recursos eficientes; que as formações e qualificações fortaleçam as lideranças e a juventude, bem como assessore as comunidades a produzirem seus próprios projetos e a realizar a prestação de contas; que os bolsistas dos projetos universitários sejam prioritariamente membros das comunidades onde se desenvolvam os projetos, assim como os funcionários a serem contratados; que os bolsistas de projetos universitários sejam selecionados pela comunidade, em especial a partir do Conselho Gestor dos Pontos de Memória; que o Direito à imagem e o Direito à propriedade intelectual sejam norteadores da produção imagética, musical e textual das ações, tanto no que diz respeito à produção infantil quanto aos demais integrantes das comunidades; que a produção acadêmica seja norteada pelos interesses das comunidades, gerando produções que resultem em conquistas das comunidades; que a produção acadêmica textual e audiovisual retorne para a comunidade em versões impressas e digitais; que a produção intelectual sobre a comunidade conte com autores comunitários na qualidade prioritária ou como co-autores na produção acadêmica, eventos, congressos, seminários e fóruns; que os objetivos, as metodologias, o orçamento, as justificativas e os demais tópicos dos projetos sejam construídos a partir de interesses da comunidade; que se respeite a Convenção 169 da OIT, não sendo possível realizar qualquer estudo ou intervenção em comunidades sem a sua autorização expressa por meio de documentos áudios-visuais, escritos e outras formas de manifestação comunitária; que a ação-pesquisa-ação seja o princípio metodológico das atividades empreendidas em prol da memória comunitária.

A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul (REPIM-RS) entende que a gestão dos Pontos de Memória observe os seguintes princípios: que a emancipação e independência da comunidade seja garantida; que o Estatuto e Regimento dos Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias sejam construídos de forma comunitária, não permitindo integrantes externos na qualidade de votantes, mas, especialmente, como colabores externos; que as parcerias e o Estado promovam intercâmbios entre os integrantes dos Pontos de Memória e iniciativas comunitárias em Museologia Social; que se crie mecanismos para superar o assistencialismo interno e externo; que os Pontos de Memória possuam um conselho gestor comunitário, horizontal e formado por lideranças pertencentes à comunidade; que represente e se comunique com os órgãos públicos, redes, movimentos sociais os pontos positivos e negativos dos seus pontos de memória e iniciativas comunitárias em memória e museologia social que os Pontos de Memória disponibilizem sua produção, resguardado os princípios dos Direitos Autorais.

A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul  (REPIM-RS) tem por compromisso: estabelecer um conselho horizontal para seu funcionamento, fundamentado na atuação de articuladores capazes de concentrar, promover e fortalecer Pontos de Memória e iniciativas comunitárias em Museologia Social; elaborar um planejamento anual em parceria com as comunidades para atender as demandas de formação dos pontos de memória e iniciativas comunitárias em memória e museologia social; proporcionar formações e qualificações em Memória e Museologia Social; integrar um número cada vez maior de representantes de comunidades e de cada Conselho dos Pontos de Memória; criar um observatório que zele pelos princípios do programa Pontos de Memória, produzindo relatórios públicos sobre as condições de cada ação; divulgar e promover formações visando a difusão do edital de Pontos de Memória, entre outros; criar eventos, seminários, encontros e intercâmbios que assegurem o debate, a troca de informações e as conexões comunitárias.   

A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul  (REPIM-RS) solicita ao Ministério da Cultura a criação de editais específicos com sistema de avaliação adaptado a integrantes e moradores de comunidades, preferencialmente, em locais que possui pontos de memória e iniciativas comunitárias em memória e museologia social, respeitando a singularidade de expressão das comunidades que sofrem exclusão histórica a partir de critérios  territoriais, étnicos, culturais e/ou de gênero.

A Rede de Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias do Rio Grande do Sul (REPIM-RS) solicita intervenção do Ministério da Cultura junto ao Ministério da Educação (MEC) para a criação de graduações em Museologia com ênfase em Museologia Social no turno noturno, curso este diretamente interessado na justiça social e na correção das desigualdades sociais por meio do reconhecimento e da defesa da Memória das comunidades. 



Participam da criação deste documento

1. Andréia Becker – Memorial da Câmara de Camaquã, Núcleo de Pesquisas Históricas de Camaquã, REMRS (Camaquã)
2. Arthur Boderode Becker – Graduando em Museologia UFRGS (Porto Alegre)
3. Bedati  Finokiet – Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS (Santo Angelo)
4. Cláudia Feijó da Silva – Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro/Articuladora REPIMRS (Porto Alegre)
5. Daniela Pioner – Instituto Bruno Segalla (Caxias do Sul)
6. Diego Luiz Vivian – Museu das Missões (Ibram/Minc), Articulador REPIMRS (São Miguel das Missões)
7. Eduíno de Mattos – Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro (Porto Alegre)
8. Emílio L. Dos Costa – Ponto de Memória Missioneira (São Miguel das Missões)
9. Fernanda Brunetta Figueiró – Graduanda em História UFRGS (Porto Alegre)
10. Geanine Vargas Escobar – Museu Treze de Maio (Santa Maria)
11. Hélio B. Silveira - Centro Cultural Esportivo Ferroviário (Porto Alegre)
12. Izolina E. Anhaia – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro (Porto Alegre)
13. Jean Baptista – Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande)
14. José Herter - Artesão e Membro do Ponto de Memória Missioneira (São Miguel das Missões)
15. Juliana Medeiros – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro (Porto Alegre)
16. Luciane de Oliveira – Rede Jovem pelo Patrimônio Mundial (REJUPAM) / Ponto de Memória Missioneira (São Miguel das Missões)
17. Manuela Garcia – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro, Graduanda em Museologia UFRGS (Porto Alegre)
18. Marcelle Pereira – Coordenação de Museologia Social e Educação (Ibram/MinC)  
19. Marcia Reck da Silva – Secretaria de Cultura e Turismo de São Miguel das Missões (São Miguel das Missões)
20. Marcia Vargas – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro, Rede de Educadores em Museus do RS (Porto Alegre)
21. Marly Cuesta – Pontos de Cultura do RS (Porto Alegre)
22. Ritiéli Pilar – Ponto de Memória Missioneira (São Miguel das Missões)
23. Teresa Dutra – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro (Porto Alegre)
24. Teresinha Beatriz Medeiros – Ponto de Memória Lomba do Pinheiro (Porto Alegre)
25. Tony Boita – Graduando em Museologia UFPel / Articulador da Rede dos Pontos de Memória e Iniciativas Comunitárias em Memória e Museologia Social (Pelotas)
26. Treyce Ellen Goulart – Universidade Federal de Rio Grande (Rio Grande)
27. Valter Braga – Ponto de Memória Missioneira (São Miguel das Missões)
28. Vera Lucia Dreilich da Silva – Guia Turístico da Associação de Guias Turísticos das Missões
29. Zoé Parisot – Mestranda em turismo comunitário (França)

(segue em anexo a ata e as assinaturas)

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